Semana do godemiché
October 12th, 2008No âmbito da comemoração do Dia Internacional do Godemiché, que coincide com a recentemente instituída Semana Europeia do Godemiché, realizada sob o Alto Patrocínio da Comissão Europeia, Tira Tira!, sempre atento a questões da actualidade socialmente relevantes, não podia deixar de se associar a tão dignas iniciativas.
Tínhamos planeado uma resenha histórica do godemiché, mas, entretanto, perdemos a pachorra para o fazer. Basta saber que há godemichés desde que existem homens e mulheres com orifícios onde introduzi-los. Ao mesmo tempo que um homem lascava uma pedra de forma tosca e rude, para usar como utensílio ou arma, uma mulher polia cuidadosamente, até ficar lisinha, outra pedra, esguia e com 20cm de comprimento.
Os godemichés, também conhecidos como dildos, consoladores ou massajadores faciais, existem numa grande variedade de formas e tamanhos, e com propósitos específicos, sendo os mais comuns a penetração vaginal e anal.
A Wikipedia refere algumas leis idiotas, em país distantes e exóticos como os EUA ou o Japão, onde há limitações ou proibições na utilização do godemiché. Num caso citado, na aplicação da lei do Estado do Texas, uma mulher foi condenada depois de ser apanhada a vender um godemiché a dois polícias à paisana que se passavam por casal pervertido. Um país em que dois polícias se tornam agentes provocadores e se disfarçam de compradores de godemichés para apanhar uma dona de casa prevaricadora não é um país onde se possa dizer que as pessoas batem bem dos cornos.
No Japão, os fabricantes disfarçam os godemichés de brinquedos, tipo Hello Kitties. Coitados. Se não se pode proibir as pessoas de enfiarem objectos comuns, como comandos de TV, courgettes, garrafas de Absolut, etc., na vagina ou no ânus, como é que alguém se vai lembrar de proibir um objecto especificamente produzido para o efeito? É que é mais seguro, mais higiénico e mais eficaz. Essa proibição leva a utilização de objectos menos adequados, sendo, pois, um grave perigo para a saúde pública.
O godemiché tem marcado presença na poesia e literatura, mas seria enfadonho listar muitos exemplos. Os estudiosos dizem-nos que Luiz de Camões terá começado por iniciar um dos seus mais conhecidos sonetos por “Amor é godemiché que entra por trás sem se ver”, tendo, no entanto, mudado o texto na manhã seguinte, já sóbrio, utilizando meios de composição poética mais convencionais, como a metáfora.
Nas cantigas de escárnio e mal-dizer medievais encontramos referências ao godemiché a dar com pau. Vamos reproduzir apenas um poema de Fernand’ Esguio, incluído no livro “Cantigas Obscenas de Escárnio e Maldizer”, de Orlando Neves (Editorial Notícias, 2004), com textos seleccionados dos que foram compilados em 1965 por Rodrigo Lapa.
Para vós, Dona abadessa,
eu, o D. Fernando Esguio,
estas prendas vos envio,
porque sei que esta remessa
vós, dona, a merecereis:
quatro caralhos franceses,
sendo dois para a prioresa.
Já que sois amiga minha
e em nada quero poupar,
isto vos mando entregar
que outros não terei tão asinha:
quatro caralhos de mesas,
que me deu uma burguesa,
cada par numa caixinha.
Muito bem vos parecerão,
pois até trazem cordões
para cada par de colhões.
Em breve os entregarão:
quatro caralhos asnais,
tendo pegas de corais
para levar à boca o pão.
O texto, na adaptação para português moderno pelo autor, é explicitado numa nota de rodapé onde se diz que “a cantiga alude a um objecto, em uso na Idade Média, que hoje é conhecido por vibrador (o «consolador») que certas mulheres utilizavam quando não podiam (ou não queriam) ter relações com homens.” Um comentário que nos leva às lágrimas tal a ignorância. Desde logo, um godemiché não é tradicionalmente “um vibrador”, nem havia pilhas no Século XIII.
Mas vejamos, agora, en passant, um par de mitos relacionados com o godemiché, desmontados pelo site Mypleasure.com (um bookmark obrigatório).
Mito: Um homem que gosta de levar com um godemiché na peida é panilas.
A verdade: Nada disso! A orientação sexual não tem nada a ver com os actos de prazer que cada um aprecia. Disparate! Muitos homens que são 100% (ou mais) hetero gostam de ser massajados, dedilhados ou penetrados cu adentro, até perder de vista.
Mito: Um homem que gosta de levar na peida de uma mulher com um strap-on é anormalmente submisso.
A verdade: Esperem aí… Mito? Qual mito? O site está errado, claro que é submisso. So what? E o que será “anormalmente” submisso?
Ficamos por aqui, por ora, pois como acho que já foi referido, temos mais que fazer. Esta semana é, assim, dedicada ao godemiché, em tiras tão feministas que até faz impressão – sim, porque por cá gostamos de mulheres, mulheres que gostam de homens e mulheres que gostam de mulheres que gostam de homens – e que serão publicadas, como tem sido norma, à segunda (hilariante), quarta (de mijar a rir) e sexta (muito engraçada).
O que não quer dizer, como é óbvio, que o godemiché não vá tendo presença nas tiras futuras. Au contraire.
Não se esqueçam, amiguinhos e amiguinhas, o que é importante é brincar em segurança e sem espalhar doenças por aí. Usem lubrificante assaz e leiam sempre as instruções do fabricante, e se adquirirem um daqueles com depósito, certifiquem que não vem carregado com leite made in China.
Esta semana vamos pôr o godemiché na boca de toda a gente!