Wikileaks: Fugas Escaldantes
December 8th, 2010No momento em que este texto é escrito, Julian Paul Assange, o fundador da Wikileaks, está detido no Reino Unido, aguardando decisão sobre a sua extradição para a Suécia, onde é acusado de “violação” ou, talvez, de se “portar mal” na cama. No momento em que o leitor lê este artigo, sabe deus que desenvolvimentos fascinantes não terão já ocorrido. O Reino Unido e os EUA partilharam informações sobre autópsias de extra-terrestres? O presidente Obama acha que Hillary Clinton veste muito mal?
Sim, não gosto de utilizar preservativo, e depois? Processem-me! Não, esperem, era uma piada! |
Aparentemente, as duas mulheres que acusam Julian Assange de “mau comportamento sexual” (traduzindo próximo do inglês “sexual misconduct”) tiveram sexo “consensual” com o senhor, “em separado” (hmm…). No entanto, apresentaram queixa em conjunto (ha!), no mesmo dia. Consta que até partilharam o táxi até à esquadra da polícia, do qual foram vistas a sair aos beijinhos e aos apalpões.
Os pormenores da acusação, divulgados pela imprensa mais rigorosa, são os seguintes:
1º) A queixosa “Menina A” afirma que:
a) O gajo utilizou “o peso do seu corpo” para a imobilizar “de forma sexual” (não a agarrou nem a tentou despir, mergulhou em cima dela, por forma que ela não se conseguisse mexer, ao mesmo tempo que alinhou as genitálias);
b) Consumou um acto sexual “sem protecção, apesar da exigência por parte dela para que fosse utilizado um preservativo” (ele, recorde-se, tinha-a imobilizado com o peso do seu corpo, mas ela, aparentemente, não se queixou, só disse para ele enfiar um preservativo);
c) Molestou-a “de uma forma que visava violar a sua integridade sexual” (tentou destruir-lhe os órgãos genitais?! Não soa a diálogos de um filme porno convertidos em linguagem judicial?)
2º A queixosa “Menina W” – mais sucinta, o que se aprecia -, afirma que o gajo teve sexo com ela, “sem utilizar preservativo, enquanto ela dormia”.
Quando não são referidos detalhes, os títulos na imprensa anglófona falam em “sexual assault” e “rape”. Assim por alto, os média portugueses fazem traduções parciais, apresentando informação limitada e insuficiente para traçar um quadro satisfatório dos alegados crimes.
Uma das mulheres terá confirmado a um jornal sueco que o sexo foi “consensual” e que nunca quis que existisse uma acusação de “violação”. E disse-o referindo-se aos actos sexuais em que intervieram ela e a outra queixosa. Se não foi um ménage a trois envergonhado, marcaram hora ou o gajo foi com uma de dia e com a outra à noite, e as duas, quando souberam, ficaram um bocado fodidas e apresentaram queixa (juntas) como represália.
Não consigo imaginar sexo realmente “consensual” em que não se utilize preservativo contra a vontade do parceiro sexual dito “passivo” (claro que mais difícil ainda é imaginar o “activo” introduzir o pirilau descamisado contra a sua própria vontade).
Para não ser consensual, como é óbvio, o gajo teria de forçar o acto contra a vontade das miúdas. Parecem-me duas coisas diferentes consumar um acto sexual contra a vontade de outrem e consumar um acto sexual sem preservativo contra a vontade de outrem.
A haver resistência ao acto sexual, que o pudesse transformar em “não consensual”, essa resistência teria de ser similar perante ambas situações. Isto é, independentemente de um dos cenários pedir uma reacção mais forte, para que o sexo fosse “não consensual” requerer-se-ia, em ambos os casos, que a mulher manifestasse a sua vontade de não ter sexo ou de não prosseguir com o coito, exprimindo-se de forma clara – físicamente (um soco no nariz, dois dedos nos olhos, etc.) ou verbalmente (por exemplo, “tira o teu pénis da minha vagina”).
Duas mulheres suecas. Assange é acusado por duas mulheres suecas. |
No segundo caso, a mulher, ao que parece, foi envolvida num acto sexual “enquanto” dormia. Não há mais pormenores? Por favor? Acordou durante? Não acordou? Se não acordou, seria por estar à beira do coma alcoólico?; acordou e disse “pára, parvo!” ou “mete um preservativo”?
Se a “Menina W” não acordou enquanto ele se esforçava em cima dela, tal é, no mínimo, um insulto à sua virilidade. Não é humilhação que chegue, seria mesmo preciso levá-lo a tribunal?
Será que ela simplesmente acordou e reparou que tinha de se ir lavar? Nesse caso, podia ter posto a hipótese de ter sido impregnada com sémen enquanto dormia. Ei, estou só a colocar hipóteses. É possível, há por aí cada tipo mais estranho. O gajo podia ter-se masturbado para dentro de uma chávena de Nespresso, tendo posteriormente introduzido o sémen na vagina da mulher com uma colher de café. Tudo isto com o maior cuidado, tentando não fazer barulho nem incomodá-la.
Se ela passou o tempo todo a dormir, e encontrou sémen quando acordou, a única hipótese que coloca foi que o tipo que estava a ressonar ali ao lado tinha ejaculado dentro dela? Parece uma presunção preguiçosa e de má fé.
Isto conduz-nos a uma questão importante. Um gajo que leve uma mulher embriagada para casa e a meta na cama, sem que ela ofereça resistência, pode ser acusado de violação se tiver sexo com ela enquanto dorme? Já haverá jurisprudência sobre isto? (Por favor, mandem-me toda a informação que tiverem para ciel@tira-tira.net.)
As autoridades dizem que esta acusação não tem nada que ver com a Wikileaks, mas o indivíduo está preso no Reino Unido, sujeito a ser deportado para Suécia, onde, ao que parece, poderá ser julgado por crimes cuja moldura penal é de até quatro anos de prisão, por ser uma besta e insistir em não utilizar preservativo.
Em Portugal, o crime de violação tem uma moldura penal de três a dez anos, o que significa que, no caso de uma violação “menos grave” (pois, o conceito também me repugna, mas não fui eu quem inventou a cena das molduras penais), o arguido passa só três anitos na cadeia.
Na Suécia, um não utilizador de preservativos em série pode apanhar até quatro anos, porque – diz-se por aí, não tenho à mão um código penal numa língua que se perceba – a lei sueca considera uma forma de violação a prática de sexo sem preservativo, se a mulher se opuser ao facto de não existir um preservativo no pénis, ainda que não se oponha ao pénis em si (“em si” em ambos os sentidos).
Se estou a perceber bem, o cenário é o seguinte. Temos dois sujeitos, A (com pénis) e B (com vagina).
O sujeito A tem o pénis erecto e prepara-se para penetrar a vagina do sujeito B.
O sujeito B diz: “alto lá, não faço sexo sem preservativo!”
O sujeito A replica: “ah é? E eu não faço sexo com preservativo!”
Preservativo com sabor de morango. No seu próprio julgamento, Assange decretou uma providência cautelar que obriga a manter preservativos a uma distância superior a dois metros em relação a si. Preservativos com sabores estão incluidos. |
Perante esta situação, o que faz o sujeito B? Levanta-se, veste a roupa e diz para o sujeito A: “Pisga-te da minha casa, meu cabrão do caralho!”? Não, o que o sujeito B faz é deixar-se penetrar, aproveitar, já agora, para ver se dá para um orgasmo ou isso, enquanto pensa “ah é, vais ver se não te lixas; para a semana vou apresentar queixa!”
De acordo com várias descrições na imprensa, o cenário descrito no parágrafo anterior – assim, tal e qual -, configura um crime de “violação” na Suécia. É triste pensar nisto, mas a Suécia arrisca-se a deixar de ser um país conhecido por ter gajas boas, para passar a ser um país conhecido por ter um sistema judicial muito parvo.
Imagino que na terra da Agnetha e da Frida o crime de violação stricto sensu seja punido com prisão perpétua ou enforcamento precedido de lapidação genital.
Longe de mim minimizar a gravidade de crimes sexuais, mas este caso parece anedótico. A própria terminologia técnico-jurídica em inglês, possivelmente traduzido do sueco, parece caricaturesca, quando confrontada com a descrição dos factos alegados.
Quer dizer, “mau comportamento sexual” foi algo que muitas miúdas tiveram comigo, sendo o mais grave não quererem ter sexo. Fiz queixa, fiz? Há alguma detida no estrangeiro, com pedido de extradição pendente, há? Não, continuam lá, em paz, com as suas vidinhas ridículas e gastronomia indigesta.
Em relação às “fugas” (gostava que fosse possível fazer trocadilhos com chichi em português como no inglês; infelizmente tal é-me negado por uma língua com notórias limitações neste âmbito), admiro as pessoas que conseguem ter uma perspectiva só de esquerda (ó paladinos ♫ da liberdaaade ♫♪) ou só de direita (terroristas!). “Admiro” de forma sarcástica. Podia meter “admiro” em itálico, em vez de escrever isto, mas perdia tempo em formatação e arruinava a breve manifestação de ambiguidade no texto.
Eu não sou esquizofrénico, pelo menos sóbrio (estado em que me encontro com cada vez mais frequência), mas tenho reacções diferentes a “leaks” diferentes (se fosse possível o tal trocadilho diria que umas até ardem).
Caso I: Abusos cometidos por governos e por estes mantidos secretos. Reacção: Porreiro, pá!
Caso II: Coscuvilhices, tipo o Sarkozy acha que a Angela tem um rabo gordo. Reacção: Por amor de deus, vão fazer alguma coisa de útil!
Caso III: Supostas listas de instalações vitais para a segurança de um país. Reacção: Porra, não estarão mesmo a pedi-las?
(Não sei se repararam, mas todas as reacções começam por “por”. Vou procurar um significado complexo e fascinante para isso, e depois substituir este parêntesis.)
Queria aproveitar para dizer que o Assange também abusou de mim. Foi. Há uns tempos, em Estocolmo por acaso, bebemos umas 15 Falcons cada um (aquilo mal tem álcool), com uma dose de arenques fermentados (eu sei, mas depois da segunda cerveja sabe a caviar, e mais umas duas até se engole), e enquanto fui à casa de banho mijar o gajo aproveitou para sair sem pagar a parte dele. Boa altura para o processar, e reaver as 1140 coroas que essa besta me ficou a dever.
December 9th, 2010 14:47
não percebi o que é uma linha de um filme, mas
apreciei o facto de este ser o único site do mundo
que escreve média com acento. quanto ao resto,
mandei pelo menos duas loladas profundas, e isto
num computador público.
December 9th, 2010 15:04
Linha no sentido de “10. Série de letras numa direcção.” (dic. Priberam). Mas sim, é uma expressão mais próxima da língua inglesa, e ficaria melhor “diálogo de um filme” ou algo assim. No tiarto português não se usa “vá, agora diz as tuas linhas”? Mas usa-se “cheirar uma linha”, certo?
December 9th, 2010 15:06
Deve ser mais “falas”? Fá-las. Fá-los. Falos. “Menina, olha este falo. Fá-lo.”