O Facebook expulsou-nos
May 30th, 2010A página do Tira Tira no Facebook foi removida. Recebemos hoje, domingo, uma notificação por email em português merdoso (apesar de começar por “hello”), a informar que “você criou uma página que violou nossos Termos de uso”, especificando que “entre outras coisas, as páginas com conteúdo odioso, ameaçador ou obsceno não são permitidas.”
A melhor frase da notificação é a seguinte: “Uma página do Facebook é um aspecto marcante usado apenas para finalidades de negócios e comerciais.” Uma página do Facebook é um aspecto marcante? Puta que pariu, quem iria imaginar uma coisa dessas?! Um aspecto marcante, uau.
A mensagem não diz especificamente porque é que a página foi removida (aposto tudo na parte do “obsceno”), e a página desapareceu sem que tenha ficado qualquer informação online a informar da remoção. É como se não existisse. Algo bastante amador, para um site com dimensão planetária.
Se acham o conteúdo do Tira Tira! obsceno, estão no direito deles, como é óbvio. Não me passaria pela cabeça contestar que uns bonecos nus ou mesmo uns pénis erectos de vez em quando, não poderiam ser considerados “obscenos” por um bom número de pessoas. Podem ser, só depende da sensibilidade de cada um. Para qualquer adulto com um pouco de senso comum não passam de bonecos, mesmo que tenham pilas, mamas e desejo sexual. Ou seja, um pouco de humanidade. Que mal há nisso? Eu não vejo nenhum, mas é óbvio que “humanidade” e Facebook não ficam bem na mesma frase, não é?
Penso que o FB poderia, pelo menos, colocar um aviso para que os fãs soubessem que a página tinha sido removida, e não ficava nada mal se houvesse um endereço de contacto, para pedir mais informação e, eventualmente, recorrer da decisão. Ou para, pelo menos, enviar sugestões do género “por favor, escrevam em inglês se não dominam a Língua Portuguesa”.
Suponho que não removeriam a página sem várias reclamações e sem que tivessem confirmado que, de facto, a página viola os termos de serviço. Assim sendo, só há que aceitar e esquecer o Facebook como plataforma de divulgação do site. Teve a sua utilidade, mas a popularidade da página estagnou depois de algum tempo, além de que metade dos fãs eram indonésios, malaios, sul-africanos, etc., julgando que “tira tira” era sabe-se lá o quê (mas provavelmente algo relacionado com uma telenovela coreana).
Às pessoas que nos bufaram, queria pedir desculpas humildemente pelo conteúdo, provavelmente obsceno, que vos ofendeu. Suas meninas. Se por um lado nos estamos mais ou menos a cagar para quem se ofende com o conteúdo “obsceno” do site, por outro, não queremos impô-lo a quem se sinta ofendido e fique indisposto, ao ponto de ter de tomar comprimidos ou de telefonar ao amante porque precisa de um abraço já, já.
Devido à falta de pormenores na notificação do robot do FB vamos ficar na dúvida sobre a motivação do cancelamento da página. Assim, é difícil não suspeitarmos que o cancelamento da página tenha assentado em razões xenófobas e muito provavelmente transfóbicas, pois o Tira Tira! sempre deu espaço a modos de vida alternativos, que conservadores fascistas muito gostariam de exterminar em algum campo de concentração imundo.
Se não nos dão os motivos específicos pelo cancelamento, mas meras possibilidades genéricas (“olhem, não vos dizemos porque cancelamos a página, mas nós costumamos cancelá-las pelos seguintes motivos…”), também podemos generalizar sobre essa motivação.
Por exemplo,
o Facebook é racista e fechou a página devido à representação de relações afectivas e sexuais entre pessoas de diferentes etnias;
o Facebook é homofóbico e fechou a página devido à representação de relações afectivas e sexuais entre pessoas do mesmo sexo (sobretudo meninas, porque, convenhamos, menino-menino não é tão bonito esteticamente, os pêlos, e são pénis a mais);
o Facebook é transfóbico e fechou a página devido à representação de pessoas que não se definem pelos rótulos (fascistas) de “homem” (com pila) e “mulher” (com mamas e vagina);
o Facebook é religioso e fechou a página pelas muitas tiras divertidíssimas (ah ah) sobre padres que curtem crianças ou sobre a megalómana visita do papa a Portugal.
Seja como for, nunca saberemos porque “eles” nunca nos vão dizer. Mas, se quiserem dizer, olhem, mandem um email. In English, please.
May 31st, 2010 0:45
MWAHAHAH, esta para mim é a melhor tira-tira até ao momento… Obrigado às meninas do PS – valeu a pena! 🙂
May 31st, 2010 0:46
BTW, era mesmo “racisca” que queriam escrever?
May 31st, 2010 0:56
Não, era racista mesmo.
May 31st, 2010 10:07
aos que nos bufaram….Sabemos aonde moram todos!!!!!!
August 21st, 2010 8:36
Nota prévia: não uso “niqueneimes”. Para clandestinidades, já chegou o tempo da senhora D. Maria e seu hóspede. Quem não queira assumir o que diz, tem uma excelente solução: não dizer. Sei que há outras razões, mais honradas, para o anonimato. Mas as verdadeiras são raras e nenhuma me serviu, até hoje. Quando não me apetece mais, vou-me embora.
Cheguei aqui pela mão casual de um amigo, no decurso de uma amena e divertida troca de correspondência, precisamente sobre palavras a que também há quem chame obscenas e as suas baralhações, conforme as línguas, em que se idênticas combinações silábicas (e de sons) têm significados muito diversos, originando não poucas situações embaraçosas (para os inseguros e puritanos). Ele indicou-me o caminho para a página das recentes aberturas dicionarísticas à realidade da nossa língua. Procurei a “casa mãe” e deparei com a denúncia da censura, em toda a arrogância da sua ignorância.
Fico freguês, talvez não interventor habitual, pois muito gozo me espera em leituras, músicas, intervenções poéticas e não só, e ainda mais uns etcs., por onde espreguiço a minha aposentação…
Não gosto de “redes sociais”, em geral. Por razões pessoais.
Mas a atitude de quem, afinal!, manda nelas – pelo menos no Facebook – demonstra a falsidade da “nova era democrática global” apregoada com vistoso foguetório por quem vislumbrou na “rede” e seus “serviços” (sempre com dono) um imparável avanço civilizacional. Não é, nunca foi e “hélas!” nunca será: haverá sempre um chinês de serviço, ou um xeique (cheque?) das arábias, para meter na ordem googles e blackberries; e dobráveis espinhaços prontos a usar.
E subsiste, como se comprova, o incógnito censor, refugiado na cobardia do anonimato, que decide, por nós, o que é “obsceno” (mesmo quanto ao odioso ou ameaçador, se pode ser admissível, há que prová-lo, que uma coisa é um texto “racista e ameaçador” de um qualquer nazi retardado; outra, bem diferente, o que “ameaça” o cadeirão estofado do chinês ou do xeique (esta é mais “coxim”), ou que o mesmo xeique odeia, porque aborda a sua “indiscutível verdade” religiosa, de braço dado com algum “cristão”, que igualmente odeia (caridosamente!) o Saramago e seu “Caim”.
Apesar de ser mais uma confirmação do que venho afirmando, ao chamar a atenção para os defeitos da NET e para a necessidade de defender o muito que nela é útil, não fico satisfeito: é daquelas coisas em que apreciaria mais ser desmentido pelos factos…
A natureza humana parece imutável, na globalização da estupidez, da intolerância, da incultura. O CiEL não desiste. Estou consigo. É uma coisa pequenina. Mas, água mole…