Salão Internacional Erótico de Lisboa 2009
November 12th, 2009A 5ª edição do Salão Internacional Erótico de Lisboa realizou-se no último fim de semana de Outubro de 2009, no espaço da FIL, situado no Parque das Nações. O Tira Tira! decidiu visitar o evento e medir-lhe a temperatura. Quente, muito quente, morno? Leia o artigo para descobrir. Ah, para quê fazer suspense? Dizemos já: aldraaabice!
Pois é, foi já num final de noite que nos deslocámos à FIL, para um evento dedicado ao erotismo e à pornografia, verdadeira celebração do deboche num país que já se considerou de “bons costumes” e, passe a aparente contradição, “católico”. A verdade é que a pornografia tende a ter uma grande penetração num país como Portugal, onde a maior parte das pessoas estão habituadas a serem comidas regularmente, e a fingir que estão muito revoltadas com isso. Por outro lado, o domínio da passividade conduz a uma uniformização pouco interessante da procura com consequências na oferta.
O Salão Erótico prometia imensas coisas, incluindo “truques vaginais”, mas devemos ter perdido os pontos altos do evento. Entrámos curiosos e expectantes, preparados para uma catarata de emoções, ou, pelo menos, nudez e sexo abundantes. Logo à entrada – mas mesmo, mesmo à entrada -, deparámos com uma multidão que concentrava a olhar em algo que não vislumbrámos de imediato – quem sabe um palco onde se rebolava uma mulher deslumbrante, desequilibrando-se com os seus saltos altos devido ao volume dos seios? Mas não, afinal era uma TV que estava a emitir o jogo do Benfica. Isto não é uma metáfora, uma graçola, mas a realidade, e mostra como os organizadores jogaram com duplas. Que ninguém deixasse de ir ver gajas nuas no Salão Erótico por causa do jogo.
O vasto espaço continha meia dúzia de palcos onde se realizavam números de strip-tease. Pelo meio, e mais para o centro, encontravam-se alguns stands de vendas de acessórios sexuais e de pornografia. O strip estava a cargo de algumas casas e clubes da especialidade, de Lisboa e de outras terras, mas o destaque ia para o palco onde actuavam as meninas do país convidado: a República Checa. Todos sabemos que na República Checa há mulheres deslumbrantes. Não sabe quem nunca lá foi ou os que andam todos contentes a pensar que vão finalmente poder casar.
Depois de apreciarmos alguns números nacionais, fomos, pois, na direcção do palco onde se encontrava a estrela Carla Cox. Antes de mais, há que referir que a escolha do nome artístico foi péssima, pois ninguém quer associar um “cox” a uma miúda, excepto se for o próprio.
A menina Cox era realmente bonita e tinha assim um corpo saudável e sem excessos. Apanhámos já o final da sua performance, o que foi uma pena. Mas o pior foi a visibilidade, pois os palcos terão sido concebidos por anões ou por alguém com conhecimentos deficientes do sistema métrico. Em todo o caso, deu para apreciar a graciosidade da artista, enquanto introduzia um godemiché na vagina com confiança e à-vontade, colocando-o posteriormente na boca e chupando com aparente deleite. Acreditamos que não se descuraram os cuidados necessários com a higiene. Quanto ao godemiché, não há muito a dizer; era um modelo banal, sem qualquer charme. A rapariga era encantadora e estava contente por estar ali, saindo do palco a agradecer e a pisar a satisfação que tinha estado a escorrer por todos os poros do seu corpo.
Em seguida foi sempre a descer, com excepção de um ou outro momento alto. Mas os godemichés não abundaram, foi praticamente só teasing, com meia dúzia de miúdas bem jeitosas e com um ar determinado – daqueles que as levaria, certamente, a passarem numa entrevista para minha secretária ou assistente de qualquer coisa (assistentes nunca são demais) – a porem as mamas ao léu e a resistirem um bocado aos frontais. Pelo meio, iam surgindo os convites para os “shows pornos e lésbicos” a 5 EUR e que se realizariam numa barraca ao lado, certamente com pouca ventilação e no meio de algumas pessoas que só de olhar para elas pensamos em abrir uma janela.
O mais ridículo é que as estrelas que iam ao palco e que seriam as performers dos “shows pornos” eram duas senhoras que se desgraçaram totalmente ao meterem mamas de plástico! Todas as outras miúdas eram giras, umas mais que outras, e torneadas, com seios bem jeitosos, mesmo que não fossem muito médios. Mas eis que nos querem vender, de cinco em cinco minutos, quatro bolas de plástico. Como se ver quatro ou cinco miúdas giras a espojarem-se no palco fosse chamariz para pagar 5 EUR para ver o show lésbico com aquelas duas. Quer dizer, vão-se embora já! Eu pago para saírem da frente e deixarem as outras gatinharem por ali tranquilas, mesmo aquela muito gira, mas cujo olhar parecia sugerir que estava toda drogada. Espero que não, que fosse só atitude de palco, pois as drogas dão cabo de uma pessoa. Mas antes tomar todas de vez em quando, e em moderação, do que meter mamas de plástico.
Adicionando insultos a uma carga de porrada, para adaptar uma expressão estrangeira, o mestre de cerimónias não tinha sensibilidade nenhuma para a função que lhe foi incumbida. Andava ali pelo palco como quem está numa feira a vender bilhetes para o carrossel, atoalhados ou relógios “da quartz”. O senhor era o conhecido Sá Leão e a desilusão foi maior pois eu tinha visto alguns filmes dele e sempre me pareceu que teria algum talento, pelo modo como construía os quadros ou jogava com as elipses. Mas ali no palco o gajo disse bem umas 75 vezes “siga para bingo!” e falava em “gajas” que se andavam a “afarfalhar”, entre outras alarvidades. É que nem sabia o nome das miúdas. “Agora vêm aí… mais umas gajas boas”. “Meia dúzia de gajas boas a afarfalharem-se… Siga para bingo!”
O leitor terá uma ideia do público destes eventos, julgando, porventura, que, para além dos que lá se deslocam para pesquisa ou estudo, como foi o nosso caso, de um modo geral são taradinhos ressabiados de gabardina. Bom, convenhamos, para onde iriam esses durante o Salão Erótico? Não faria muito sentido não estarem lá, até porque, como já referimos, também havia Sport TV. Mas não faltam casais, heterossexuais e dos outros, e grupos de mulheres que vão lá pela piada ou, talvez, para aprender técnicas de strip-tease.
O espectador típico é, de facto, muito estranho, tanto os mais jovens como alguns velhotes tarados. Mas a estranheza decorre de um processo de mediação tecnológica aberrante que passa pela utilização permanente de telemóveis para fotografar e filmar. Não estamos a falar de pessoas que tiram umas fotos, gravam uns clips, mas sim de indivíduos que estão frente ao palco per-ma-nen-te-men-te com um telemóvel na mão, sem nunca o baixar. Não olham directamente a mulher que está no palco; tal é secundarizado pela concentração obsessiva no registo masturbatório. É realmente estranho. De facto, as artistas provocavam alguns destes esquisitóides, empurrando-lhes os telefones, e eles olhavam por um segundo e voltavam a colocar os aparelhos entre eles e os corpos nus.
Além dos strips femininos, outros havia com “boys” e outros ainda com indivíduos de sexualidade que era, no mínimo, dúbia. Mas não nos pareceram, de todo, interessantes. Um dos locais populares era o que sugeria a troca de casais. Troca de casais, imagine-se tal coisa! É como trocar de automóvel, mas só para dar uma volta. Isso faz algum sentido?
A determinada altura formou-se uma bicha considerável para um espectáculo no interior de um espaço que parecia bastante pequeno. Suponho que era um show em que dois casais se trocavam, o que deve ser uma coisa mesmo fascinante: entram quatro pessoas em formação A-B, C-D, pumba, pumba, e agora… A-C, B-D, pumba, pumba! Que loucura. O espectáculo era “só para casais”, no sentido hetero penso eu (hoje tem que se especificar cautelosamente), mas não vi manifestações pró-igualdade cá fora, a dizer que era uma vergonha, inconstitucional e o caralho. Mas também suponho que nenhum casal gay iria participar em trocas com casais hetero à mistura, pois não? Claro que não, porque eles discriminam, não querem gajas! Imagino que quando o casal gay tiver oficialização legal as trocas de casais (gays) serão muito mais excitantes do que quando eram apenas “namorados”. Finalmente, os homossexuais poderão usufruir também desse nível de “transgressão”.
Em relação ao comércio, parece que não correu bem: foi mais exposição do que venda, com os stands a queixaram-se dos maus resultados e a dizerem que a utilidade é mais de divulgação da marca e dos produtos. Um deles era o da Vesúvio. Quando por lá passávamos ou estava a passar um filme em que a actriz era uma senhora que deveria era estar a jogar gamão e a desfrutar pacificamente os seus anos de ouro num lar da terceira idade ou um outro com um menàge à trois que incluía um casal feioso e um pastor alemão.
Vamos por partes: não quero ver porno que me faça pensar na minha avó. Ponto. Quando ao menàge à trois, digam lá que não era suficiente o casal não ser muito prendado, se ainda tínhamos de ver um cão a ser praticamente abusado? Quer dizer, o canino parecia interessado na mulher feia de gatas (acho que é por instinto e semelhança, pobrezinho, pois é irracional), mas depois parece que a performance não corresponderia à visão cénica do realizador, e lá ia o gajo “orientar” o bicho, que é como quem diz, empurrá-lo. Onde andavam a PETA e a Animal? Não estavam ali, certamente. De qualquer forma, pareceu-nos que o catálogo da Vesúvio era demasiado específico para seduzir o público generalista ali presente. E quanto ao outro, o de gostos mais delimitados, parece que faltava algo, como se pode depreender por um artigo num desses jornais gratuitos que falou do evento, e onde se citava a opinião de um potencial consumidor que dizia que sim, já tinha visto esse filme e que “esse cão não vale nada!”.
No Salão estava patente uma exposição que homenageava a revista Gina, a qual fez parte da infância de muitos de nós, com capas e imagens de algumas das suas melhores histórias. No âmbito da pornografia impressa constatámos que outra publicação, que não é propriamente “clássica” como a Gina, ainda existe: o Sexus, o “jornal do prazer”, que se vende a 1,80 EUR. Onde, não sei, suponho que nos piores quiosques (os mais ferrugentos, e que ainda não foram trocados por uns daqueles novos com um design todo moderno).
O Sexus é uma publicação semanal em formato A4, com umas historinhas miseráveis, ilustradas por imagens de sexo explícito, algumas de péssima qualidade. Mas o pior é a armadilha: folheia-se, folheia-se e, ah caralho! Pois, é isso mesmo, e na boca de um gajo! O nojo. “O Tino tinha um martelão avantajado e sobretudo muito grosso”. O que aconteceu à decência e ao bom gosto? E a pontuação, com aquele uso patético das reticências? Ai, ai. Algumas histórias, mesmo as hetero, além de narrativamente pobres, são reaccionárias, como a da senhora que gosta tanto de pénis grandes como de pequenos, e diz que os primeiros ficam bem nos amantes e os segundos no marido. Não haverá sentido nenhum de responsabilidade social nesta gente?
A parte verdadeiramente triste do Sexus são os “anúncios íntimos”. Ao contrário dos que encontramos nos jornais diários, que se focam em coisas positivas como o convívio ou o bem-estar da coluna, os anúncios do Sexus revelam leitores profundamente deprimidos e solitários, como o “cavalheiro de 50 anos que procura fazer sexo oral a senhora dos 40 aos 50”, que diz que o importante é que ela goste de carinho e carícias pois ele, coitado, não tem “mais nada para dar”. E, claro, há muitos convites à sodomia, rapazes que procuram rapazes “para amizade e sexo ocasional”. Pela positiva, destacamos a preocupação com “sigilo e higiene” e a insistência que não há “interesse financeiro” nessas relações. Estou na dúvida onde colocar os Sexus que trouxe. Será que pode ser no contentor azul? É melhor contactar a Sociedade Ponto Verde.
Nem tudo foi negativo no Salão Internacional Erótico de Lisboa 2009, como até é possível que transpareça algures lá para cima no texto, em mais do que um parágrafo. O melhor de tudo, no entanto, foi não termos encontrado o Fernando Alvim.
no SIEL
(é giro, não é?, apesar de não perceber porque é que é SIEL não é SEIL, mas, enfim, não vamos agora discutir hierarquia semântica na pornografia)