Tira nº 172 – CiEL#0104
Algumas pessoas talvez não conheçam o mito a que a tira se refere, e com o qual traça um paralelo com personagens modernas. Essa fábula antiga fala de uma rapariga que tem uma criança livre de “pecado”, i.e., sem sexo – algo que, hoje em dia, toda a gente acha uma ideia de fazer muito xixi a rir. Não que nos nossos dias não se inventem grandes disparates, claro.
Na tira, o padre João de Deus representa a origem extra-marital do filho. É um filho que nasce livre do “pecado”… Mas do “pecado” com o marido. A criança tem características do verdadeiro pai: olhos claros e cabelos loiros. O marido, com ligações ao mundo do crime, acaba por telefonar a encomendar um “serviço” para eliminar os vestígios da traição.
A tira refere-se também à afinidade que por vezes se desenvolve melhor com culturas aparentemente mais distantes da nossa (José prefere as romenas às brasileiras), sugerindo, assim, que não devemos deixar-nos prender por preconceitos.
É afirmada a importância de não utilizar software pirata ou produtos falsificados, algo simbolizado pela água benta certificada pelo Vaticano, único modo de aferir que não se trata de água da torneira, a qual não tem qualquer efeito especial (além de molhar, matar a sede, etc.)
Há também uma subtil referência à moda de Dezembro, mês em que o malva foi a cor de eleição. Sendo certo que a tira é já de Janeiro, o tema é ainda do mês anterior.
A utilização de novas tecnologias por alguém que trabalha na mais antiga profissão do mundo pretende ser um comentário irónico sobre o nosso tempo. Ao mesmo tempo, apresenta-se uma dona de casa que por não ter estudado e passar o dia a tratar da casa de um homem rude e numa profissão indigna aos olhos da nossa sociedade, revela um péssimo gosto na escolha da roupa. Passa-se assim uma mensagem às jovens para não descurarem a sua formação e para que procurem vestir-se bem.
Há ainda uma dimensão moral na tira, representada pelos pastelinhos de Belém. Como as romenas trabalham com afinco, e são boas para o patrão, este é também bom para elas. José presenteia-as com um pastelinho cada, ao mesmo tempo que denuncia as brasileiras preguiçosas ao SEF.
January 5th, 2009 0:31
gostei do pormenor do caracol 😀
January 5th, 2009 9:55
O pormenor do fio dental é que é. Sim senhora. Bela maneira de começar o ano.
January 6th, 2009 21:29
Nesta tira faltou explicar a referência à oração “Benedictus sanctus Ioseph, eius castissimus Sponsus” (bem-dito são José, o seu [de Maria] castíssimo esposo), algo que, tenho a certeza, não escapou aos católicos que votaram 1 na tira. (Ah ah ah.) O José da tira, é certo, nada indica que não fosse “casto” (i.e., que não fodesse). Aliás, um bom homem de negócios traça uma linha divisória entre a intimidade do lar e a sua actividade comercial, pelo que se admite que quem trabalhe na indústria do sexo possa não ter qualquer interesse em foder (ou em foder em casa, pelo menos). Um pouco como alguns homossexuais casados (com mulheres; porque, graças a Deus, hoje em dia ainda só se casa homem com mulher e mulher com homem).